Quando apagar não basta: como perícia recuperou mensagens apagadas entre Jair e Eduardo Bolsonaro
Muita gente acredita que, ao apagar uma mensagem no WhatsApp, ela desaparece para sempre. O caso revelado nesta quarta-feira (20), envolvendo Jair Bolsonaro e seu filho Eduardo, mostra que não é bem assim. A Polícia Federal conseguiu recuperar diálogos deletados entre pai e filho e usá-los como parte de um relatório que embasou o indiciamento de ambos por crimes relacionados à tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito e coação no curso do processo.
O caso Bolsonaro: conversas que ressurgiram
De acordo com reportagens do Jornal Nacional e de outros veículos, a PF teve acesso a mensagens que Jair Bolsonaro havia apagado de seu celular. Foram recuperados cerca de trinta dias de conversas, entre 13 de junho e 17 de julho de 2025.
Nos diálogos, Eduardo Bolsonaro teria usado termos agressivos contra o pai, chamando-o de “ingrato” e levantando a voz em discussões sobre o apoio político ao governador Tarcísio de Freitas. Há ainda registros de Jair orientando o filho a “poupar” críticas contra o ministro Gilmar Mendes, revelando tentativas de articulação junto a membros do Supremo Tribunal Federal.
Essas mensagens, embora apagadas do aplicativo, foram restauradas por meio de procedimentos forenses após a apreensão do celular do ex-presidente.
Como mensagens “apagadas” voltam à tona
A recuperação desses diálogos só foi possível porque apagar mensagens no WhatsApp não significa eliminar todos os rastros. Há diferentes formas pelas quais uma conversa pode ressurgir:
- Backups em nuvem ou locais Se o celular estiver configurado para salvar cópias automáticas no Google Drive (Android) ou iCloud (iPhone), as mensagens ficam preservadas no backup. Se esse arquivo foi criado antes da exclusão, ao restaurar o backup, os conteúdos reaparecem.
- Ferramentas de perícia forense Programas como Cellebrite e Magnet AXIOM permitem extrair dados diretamente do dispositivo. Mesmo quando um usuário apaga algo, os fragmentos permanecem gravados no armazenamento físico até serem sobrescritos. Assim, com técnicas adequadas, é possível “reviver” mensagens aparentemente perdidas.
- Metadados e fragmentos residuais Além do texto, os celulares guardam informações como horários, remetentes e destinatários. Muitas vezes, só esses registros já são suficientes para confirmar uma comunicação.
O alerta para privacidade digital
A criptografia ponta a ponta do WhatsApp protege o conteúdo durante o envio e o recebimento, mas não impede que mensagens armazenadas no celular sejam acessadas por perícias técnicas ou restauradas por backups. Isso significa que:
- Mensagens apagadas podem ser apresentadas como provas em processos judiciais.
- Autoridades podem solicitar legalmente o acesso a backups para investigar crimes.
- Mesmo sem backups, celulares apreendidos podem revelar dados “ocultos”.
Em outras palavras: o botão “apagar” está longe de ser uma garantia de sigilo absoluto.
Cuidados que usuários podem adotar
- Ativar a criptografia de backup no WhatsApp, recurso que adiciona uma camada extra de proteção.
- Usar ferramentas de limpeza segura (“secure erase”), que sobrescrevem dados apagados.
- Evitar compartilhar informações sensíveis em aplicativos de mensagem, mesmo que exista a opção de exclusão.
- Ter em mente que, em caso de apreensão judicial, nenhuma dessas medidas garante 100% de privacidade.
O episódio envolvendo Jair e Eduardo Bolsonaro mostra, na prática, que privacidade digital tem limites claros. O simples ato de excluir uma conversa não significa que ela deixou de existir — principalmente em contextos jurídicos e políticos.
Assim, mais do que confiar no botão “apagar”, é essencial compreender que no mundo digital tudo pode deixar rastros. Para cidadãos comuns, isso serve de alerta sobre a ilusão da exclusão. Para figuras públicas, reforça que nenhuma mensagem está imune a ressurgir quando a Justiça bate à porta.