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sexta-feira, 3 maio, 2024

A batalha das planilhas: como governo e oposição mapeiam os votos para o impeachment

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Até o domingo, a cartografia do impeachment domina a Câmara. Atualizados diariamente, com informações privilegiadas, os mapas da votação em plenário do processo contra Dilma Rousseff mobilizam equipes de trabalho nos bastidores de Brasília. Governo e oposição evitam cravar resultados, apenas vaticinam que o placar tende a ser apertado — são necessários 342 votos para o afastamento chegar ao Senado.
Com mapas em mãos, as coalizões de Dilma e do vice-presidente Michel Temer identificam as tendências dos parlamentares, os riscos de traições e, sobretudo, calibram a mira sobre deputados que podem mudar de posição ou descer do muro da indecisão. Quatro núcleos concentram a produção de mapas, dois no Executivo e dois no Legislativo. No Palácio do Planalto, a tarefa é dos ministros da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, e do Gabinete Pessoal da Presidência, Jaques Wagner. No Palácio do Jaburu, quem organiza as planilhas é o ex-ministro Eliseu Padilha (PMDB-RS), famoso por acertar resultados de votações.
Na Câmara, os grupos são mais numerosos. Pelo lado governista, os responsáveis pelos mapas são Arlindo Chinaglia (PT-SP), Marco Maia (PT-RS), Décio Lima (PT-SC) e Paulo Teixeira (PT-SP). Na oposição, concentram a tarefa Mendonça Filho (DEM-PE), Darcísio Perondi (PMDB-RS), André Moura (PSC-SE) e Beto Mansur (PRB-SP). Existem traços característicos entre os integrantes das equipes dos mapas: não há lugar para principiantes. Os selecionados, em geral, são políticos experientes e hábeis para fazer leituras de cenários.
— O índice de traição é grande para um lado e para o outro. Conhecemos mais os deputados e conseguimos saber se estão falando a verdade ou não — diz um integrante do grupo petista.
Dados são levados para Dilma e Lula
Os mapas são gerados em tabelas de Excel. A confecção leva em conta fidelidade em plenário e outras informações, como manifestação oficial do deputado sobre o impeachment, e o que ele diz na sua base e nas redes sociais. É a forma de identificar quem está com dois discursos.
— Tem muito deputado em dúvida (cerca de 120, pela planilha governista). O Planalto tem o mapa dele, temos o nosso, e trocamos. Passo para o nosso líder do PT (Afonso Florence-BA), que leva até o Planalto. A atualização é diária — explica Arlindo Chinaglia (PT-SP), com a experiência de quem já comandou a Câmara.
A área de inteligência de Dilma fica no quarto andar do Planalto, mais precisamente na Secretaria de Governo. Berzoini tem uma equipe dedicada a buscar nas bancadas as projeções. O próprio ministro conversa com parlamentares, em especial líderes partidários. As informações são checadas com as enviadas pela bancada do PT e alimentam Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nessas projeções, o Planalto sepulta o afastamento com 200 a 215 votos.
No Palácio do Jaburu, todas as tardes e noites chegam mapas elaborados pelo comitê pró-impeachment e por Padilha. Escudeiro de Temer, o ex-deputado assumiu a função de monitorar as posições, tarefa que já executou quando foi ministro dos Transportes de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e da Aviação Civil de Dilma. Um assessor que o acompanha há quase 20 anos tabula os dados.
Metódico, Padilha trabalha com pastas catalogadas, organizadas por Estados, partidos e regiões em planilhas de Excel, que carrega impressas em uma mochila. O gaúcho elabora mais de um mapa por dia, identificados por data, hora e cor. Azul é pró-impeachment, amarelo é indeciso e vermelho, contra.
— Com mais de 20 anos de experiência, sei que o resultado só será possível projetar minutos antes da votação. Hoje, os líderes não garantem os votos integrais das suas bancadas. Essa maratona se define na reta final — diz Padilha.

Para realizar as projeções e encontrar deputados passíveis de mudança de posição, o ex-ministro recupera o histórico dos políticos, base eleitoral, setores que representam, aliados em coligações, desempenho em eleições. O histórico também é usado na cartografia da oposição. Todas as noites deputados se reúnem nos gabinetes das lideranças de DEM, PMDB ou PRB para depurar as listas. A casa de Mendonça Filho também é ponto de encontro. Um assessor fica com o computador ligado e atualiza as tabelas, que são impressas e distribuídas. Pelos corredores do Congresso, Perondi carrega tabelas, com rabiscos à mão ao lado. Na segunda-feira, o placar marcava 332 votos a favor, 139 contra e 42 em dúvida. Na terça, diziam ter chegado a 340 favoráveis.

— Conseguimos neutralizar PP e PR, que estavam caminhando na direção do governo — afirma Perondi.
Grupos antigoverno recebem listas de nomes
O comitê formou equipes Estado por Estado para entregar as posições aguardadas para a votação. No caso do Rio Grande do Sul, o levantamento é feito por Osmar Terra (PMDB) e Luiz Carlos Busato (PTB).
Além das parciais, a oposição usa planilhas mais detalhadas, com os nomes de todos os parlamentares e observações, como aliados e rivais na base, se a eleição passa por apoio de igreja ou sindicatos e proximidade com governadores ou prefeitos. O detalhamento permite buscar as conversas com quem ainda não se decidiu. Todos os dias, movimentos antigoverno, como MBL e Vem Pra Rua, recebem nome e telefone de 10 deputados indecisos, que são pressionados a engrossar as fileiras pelo impeachment.

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