Empresa mineira constrói 3.200 apartamentos na área da antiga Duratex e condomínio no alto de um morro que já foi devastado; temporal trouxe lama à Vila Palma
Não bastassem os inúmeros empreendimentos imobiliários que Jundiaí já tinha em andamento, há algum tempo a Emcamp, uma construtora com sede em Belo Horizonte (Minas), resolveu fazer duas suas na cidade. Lançou, e está construindo, torres que somarão 3.200 apartamentos na área da antiga fábrica Duratex, na marginal do Rio Jundiaí. O que já é um absurdo.
Na noite de segunda e madrugada da última terça-feira, a Emcamp provocou um desastre na região da Vila Rio Branco. No alto de um morro, a empresa devastou a vegetação para constuir outro condomínio, e com o temporal e muita chuva, a lama deslizou e atingiu ruas e casas, principalmente na Vila Palma, na rua Carlos Gomes. Alguns moradores das proximidades, ao verem o estrago na manhã de terça-feira, compararam, jocosamente, o desastre a Brumadinho.
Já há algum tempo há alertas de que Jundiaí está saturada, e que não teria estrutura para receber novos empreendimentos imobiliários – mais moradores requerem novas demandas, como creches, escolas, unidades de saúde, além do impacto sobre o já complicado trânsito. No caso do morro da Carlos Gomes, a complicação é maior, pois uma só rua dá acesso à área devastada pela Emcamp. Uma rua bem estreita e já complicada, por sinal.
No caso da área da antiga Duratex, a projeção é um pouco pior. O terreno onde estão sendo construídas as torres está contaminado, embora há quem afirme que isso não representa perigo aos futuros moradores. Resta saber se o solo, quase ribeirinho (está a poucos metros do Rio Jundiaí) vai suportar tanto peso. Há outro problema, chamado trânsito.
A marginal (avenida Antonio Frederico Ozanam) já tem trânsito complicadíssimo. Há um afunilamento nas pontes entre as ruas Oswaldo Cruz, marginais e viaduto Sperandio Pelliciari. Mas novos 3.200 apartamentos significam que haverá pelo menos um carro para cada um. Dá para se prever o caos. Levando-se em conta que um carro popular mede em média 4 metros, será possível formar uma fila de quase 13 quilômetros se enfileirados. Distância de Jundiaí a Campo Limpo Paulista.
No caso do morro da Carlos Gomes, além do caos previsto no trânsito, é notório que a Emcamp não se cercou de providências para evitar o desastre como o ocorrido no início da semana. Entre os moradores das proximidades, o temor é que a situação se agrave – a previsão é de muita chuva para dezembro e janeiro.
Ao que parece, a empresa deixou máquinas e operários de prontidão. Mas máquinas e homens não controlarão a natureza – se houver uma chuva um pouco mais forte, novo desastre irá acontecer. Máquinas e homens terão a missão de limpar a sujeira. Nada mais.
A Emccamp afirmou que está dando assistência e apoio às oito famílias atingidas nas casas da Vila Palma. Falou em abrigá-las em hotéis e pagar pelo prejuízo com móveis e roupas. Um custo e um problema que poderiam ser evitados, tivesse a construtora conhecimento de uma lei da natureza: terra solta em cima de morro sem vegetação, quando chove, vai mesmo para baixo. E embaixo, existem casas e famílias, que nada têm a ver com a vontade de lucro da construtora.
